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Rita Lee & Tutti-Frutti – Fruto Proibido (1975)

Rita Lee & Tutti-Frutti – Fruto Proibido (1975)

Olá amigos e amigas do blog A História do Disco, tudo bem com vocês? Espero que sim, hoje eu, Flávio Oliveira, me preparei para escrever sobre um disco que não só mudou a minha concepção sobre o rock n’ roll brasileiro, mas que também serviu de base para influenciar toda uma geração posterior aos anos 70 (a qual faria a cabeça de muita gente por sinal!) e que ainda continua sendo poderoso nos dias atuais. Hoje teremos o disco Fruto Proibido, de 1975, grande álbum solo da nossa Rainha do Rock, Rita Lee.

Antecedentes do Fruto Proibido

Antes de iniciarmos nossa resenha vale a pena apontar alguns dados interessantes sobre a nossa querida Rita Lee. Após sua conturbada saída dos Mutantes, Rita não sabia quais rumos tomaria sua carreira, por isso, após usa saída da banda e seu divórcio com o também integrante dos Mutantes, Arnaldo Baptista, Rita resolve voltar à casa dos pais para repensar alguns conceitos que tinha em mente. O motivo da saída da cantora (segundo alegação dos integrantes da banda) foi que ela não toca nenhum instrumento – o que é um equívoco dos grandes, pois Rita tocava muito bem violão, flauta e até Theremin (instrumento que podemos notar na canção ‘Dois mil e um’ do disco de 1969 dos Mutantes) – segunda a própria cantora, o restante da banda teve uma atitude machista e injusta ao optar pela saída dela do grupo. Outro fator que pesou na decisão é que o grupo estava incorporando uma estética em sua forma de compor e tocar, partindo para o rock progressivo. Rita ficou totalmente desnorteada com o fato e ela cita em sua autobiografia que se sentiu traída por seus companheiros de banda. Imaginem só como deve ter sido encarar essa pancada.

Mesmo em meio a esse momento conturbado, nossa querida Rita Lee tirou de letra e lançou o que podemos considerar como seu primeiro trabalho solo pós-mutantes – um adendo: antes mesmo de sair dos Mutantes, Rita gravou um disco solo, o Build Up (1970), que pode ser considerado como seu primeiro disco solo, o mesmo teve a contribuição de Arnaldo Baptista (seu marido na época); e também temos o disco que é considerado o seu último trabalho junto ao Mutantes depois do álbum ‘Os Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets’ (1972), que foi o disco ‘Hoje é o Dia do Resto de sua Vida’ que também foi lançado em 1972, que teve a banda toda, mas foi creditado apenas à cantora.

Após sair da banda, Rita iniciou um projeto bem interessante que fica como deixa para você caro leitor, que é o Cilibrinas do Éden (1973) gravado junto da guitarrista Lúcia Turnbull (que é muito foda). Esse disco seria o embrião, ou o laboratório para o projeto Tutti Frutti.

O grupo Tutti Frutti formou-se em meados dos anos 70 por músicos do bairro Pompéia, em São Paulo. O projeto contou com nomes de peso do cenário nacional, como: Luís Sérgio Carlini, Lúcia Turnbull e Franklin Paolillo. A banda serviu como apoio à Rita Lee e recebeu o nome Tutti Frutti por sugestão do escritor Antônio Bivar, que deu apoio à cantora nesse novo momento em sua carreira.

O disco que antecede ‘Fruto Proibido’ é o ‘Atrás do Porto tem Uma Cidade’ de 1974, disco que já mostra que o Tutti Frutti não estava para brincadeira. Rita Lee ao lado de sua banda, veio com toda a essência do rock n’ roll, e podia-se notar que muitas bandas estavam indo na contramão da essência do gênero, como por exemplo, Os Mutantes, tocando músicas extensas e melodias super complexas (basta ouvir o excelente trabalho da banda ‘Tudo Feito pelo Sol’ de 1974, que não deixa de ser um disco muito bom, porém, coném melodias complexas e um modo diferente de fazer rock n’ roll, isso tudo em decorrência do espírito do momento na cena musical), por isso Rita Lee teve um destaque no rock, pois ali ela mostrou como se faz o rock sem gracejos e de modo direito (a lá Punk Rock).

Fruto Proibido (1975)

O disco Fruto Proibido foi lançado em junho de 1975, gravado no estúdio Eldorado em São Paulo, durante o período de abril do mesmo ano.O álbum traz canções que fizeram grande sucesso nas rádios, tais como: Ovelha Negra (hit estrondoso), Esse Tal de Roque Enrow (uma parceria muito interessante com o escritor Paulo Coelho) e também a canção Luz del Fuego, que tem toda uma temática feminista por trás – fato inédito na música brasileira até então:

“Eu hoje represento a loucura
Mais o que você quiser
Tudo o que você vê sair da boca
De uma grande mulher
Porém louca! (…)”
 Destaque para a também canção feminista ‘Fruto Proibido’, que contém estes trechos:
“Não é nada disso, alguém fez confusão!
Vou dar um tempo, preciso distração.
Às vezes cansa minha beleza
Essa falta de emoção e sensação
Quem foi que disse que eu devo me cuidar?
Tem certas coisas que a gente não consegue controlar
Comer um fruto que é proibido,
Você não acha irresistível?
Nesse fruto está escondido o paraíso, o paraíso.
Eu sei que o fruto é proibido,
Mas eu caio em tentação
Acho que não (…)”
O disco trouxe energias que deixaram os ouvintes impressionados na época, afinal, uma mulher tocando em uma banda de rock, fazendo som muito melhor que homens e ainda com letras provocativas, em um tempo em que a mordaça fazia parte da repressão do regime ditatorial, e além de tudo o machismo era recorrente no rock. Todos os elementos embutidos pela nossa rainha Rita Lee neste disco mostraram sua genialidade, foi um tapa com luva de pelica na cara dos machistas!
Vale e muito citar a formação da banda na gravação deste álbum: Rita Lee (voz, violão e sintetizador), Luis Sérgio Carlini (guitarras, slide, violão, gaita e vocal), Lee Marcucci (baixo e cowbell), Franklin Paolillo (bateria e percussão) – eu tenho um autógrafo dele na caixa da minha bateria – Guilherme Bueno (piano e clavinete) e Rubens Nardo e Gilberto Nado nos vocais. Um ponto negativo do disco foi o fato de Lúcia Turnbull não participar da gravação do mesmo, a própria Rita Lee em sua autobiografia que alguns dos integrantes do Tutti Frutti não achavam legal ter uma mulher tocando guitarra e que rock tinha que ter “culhões”, mesmo com a coragem de Rita, o machismo era presente no cenário.
A recepção do disco na época foi maravilhosa, tendo vendagens estimadas em 150 mil cópias – número bem expressivo para um disco de rock no Brasil, por isso, foi recorde absoluto. O álbum Fruto Proibido é considerado por muitos jornalistas de revistas especializadas em música como o 16° melhor disco brasileiro (particularmente acho uma babaquice essas listas, acredito que cada disco tem uma porcentagem de contribuição, eu penso como o filósofo Sartre: contra absolutamente).
Espero que todos tenham curtido essa resenha e que desfrutem desse disco que é delicioso de se ouvir, sentir a essência do rock em seu momento de ouro e também espero que essa resenha sirva de prova que mulheres fazem sim rock n’ roll, rompendo assim, velhos preconceitos e deixando de lado essa mentalidade, que por sinal, é demodê.
Forte abraço pessoal e até a próxima!
Faixas do Disco


1 – Dançar Pra Não Dançar

2 – Agora Só Falta Você

3 – Cartão Postal

4 – Fruto Proibido

5 – Esse Tal de Roque Enrow

6 – O Toque

7 – Pirataria

8 – Luz Del Fuego

9 – Ovelha Negra

Ouça o álbum Fruto Proibido completo!