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Tim Maia Racional – Volume 1 (1975)

Tim Maia Racional – Volume 1 (1975)

Olá pessoal, tudo bem com vocês? Eu sou Flávio Oliveira e estou aqui no meu blog favorito pra falar de música boa.

No disco de hoje temos uma mistura de funk, soul, MPB e um conceito que é um tanto confuso. Hoje é dia de falarmos sobre o álbum Tim Maia Racional Volume I.  Em uma das primeiras matérias do AHD, eu falei sobre o primeiro álbum de Tim, e não poderia deixar passar a oportunidade de falar sobre esse disco conceitual e que destaca por ter nosso querido gordinho em um momento de maior lucidez musical, este disco alias é uma das maiores provas de sobriedade do cantor, pois no ano de gravação do mesmo Tim Maia havia parado de beber e usar drogas, esse fator contribuiu e muito para a qualidade do disco. Então, vamos ao que interessa?

Após o sucesso com vários clássicos (de seu primeiro disco, e dos posteriores), Tim Maia acabou mudando um pouco a sua visão sobre a vida, com isso passou a buscar respostas sobre o universo que estamos inseridos e qual o propósito de nossas vidas. Depois de ter contato com um livro chamado Universo em Desencanto, nosso querido Sebastião Maia passou por uma mudança radical, não só em suas atitudes, como também na parte musical. Eu tive contato com o livro mencionado anteriormente e posso confessar à vocês leitores do blog AHD que achei o enredo da obra extremamente confuso. A obra em si traz o questionamento sobre o universo em que vivemos, de onde viemos e aqueles roteiros religiosos que todos nós conhecemos. E o que torna o livro enfadonho é a quantidade de repetições: Não é uma seita, não é uma religião, não é espiritismo, é um conhecimento transmitido pelo mestre racional superior, e por aí vai. Dizem também que quem segue esse conhecimento fará contato com Ovnis, loucura demais não é!? E o que mais nos deixa intrigado é: como Tim Maia caiu nessa? Em seu livro (Vale Tudo – O Som e Fúria de Tim Maia – 2006) Nelson Motta diz que, através de um amigo próximo Tim conseguiu uma edição do livro Universo em Desencanto e ao se deparar com esse conteúdo espacial e alucinante, ele curtiu a ideia e levou adiante. Vale ainda citar que essa piração de ET’s e Discos Voadores era algo extremamente comum na época. Nosso querido Tim Maia pirou tanto que se jogou de cabeça na seita e passou a ajudar toda a comunidade Universo em Desencanto.

No ano de 1974 Tim já tinha seu material pronto, e alguns músicos que gravaram esse disco afirmam que logo após o cantor ter contato com o livro, ele alterou letras, arranjos e nomes de canções. Como todos sabem, o ‘Síndico’ sempre foi um artista muito exigente e não poupava nem mesmo seus músicos, isso porque sua capacidade musical era muito grande, mesmo ele sendo um autodidata. Todos os arranjos feitos em seus discos eram criados por ele, que reproduzia o som com a boca e passava para os músicos.

Voltando ao disco, nessa onda de autoconhecimento de nosso cantor, ele muda todo o conceito do álbum e chega o momento de levar o material à gravadora. Todos já imaginam a resposta que Tim ouviu, um sonoro não é claro, e a partir dessa “fechada de porta na cara’ nosso garoto racional abriu sua própria gravadora, a SEROMA (sigla referente as iniciais do nome do cantor: Sebastião Rodrigues Maia). Levando isso em consideração, Tim Maia foi percursor no sentido de romper com as grandes gravadoras para assim criar sua própria estética musical e poder criar sua arte como bem entender, inclusive sem ter que ser dependente do mainstream.

Pois bem pessoal, o disco – na parte de letra – basicamente é composto de versos retirados do livro Universo em Desencanto. Aliás, o que mais impressiona no disco não são as letras – é claro! – mas sim a competência musical do cantor e de seus músicos. É nesse disco que a voz de Tim Maia vai ganhar mais projeção, pois como citado anteriormente, em seu “período racional” o cantor parou de beber, fumar e usar drogas, e com isso sua voz ficou limpa. A parte chata com certeza é o fato do disco ser repetitivo, porém a qualidade instrumental é tão extraordinária que a letra se torna um quesito secundário. Particularmente, o que mais me fascina nesse álbum é a parte instrumental, o entrosamento de Tim e de seus músicos. E neste disco também nos deparamos com um Tim executando excelentes falsetes – saudações a grande musa do falsete no Brasil, Mc Melody – e dando uma aula de canto. Os instrumentos de sopro trazem as influências de Tião em relação ao funk e ao soul, ambas adquiridas no período em que o cantor esteve na terra do Tio Sam.

O disco era distribuído pelo próprio Tim Maia e toda a verba arrecadada era revertida para o pessoal do Universo em Desencanto. A fase racional foi dividida em três partes, a mais conhecida delas é a primeira, que traz faixas famosas como ‘Imunização Racional (Que Beleza)’, ‘Bom Senso’ e Rational Culture (que quando você ouve pela primeira nem acredita que são brasileiros tocando). No volume dois temos a faixa ‘O Caminho do Bem’ que pediu passagem no filme Cidade de Deus (2002) e ‘Guiné Bissau, Moçambique e Angola’ que mostra a tentativa de expandir  o conhecimento do Universo em Desencanto (nosso querido Tião queria mesmo que todos entrassem na onda racional, numa relax, numa tranquila, numa boa). Embora o terceiro volume tenha sido perdido no meio do processo de desapego ao conhecimento, existem inúmeros vídeos na internet que mostram a qualidade do último disco da fase racional.

O fim desse “aventura” se dá quando Tim Maia descobre que toda a verba que ele doava à instituição era desviada para o bolso dos líderes da seita (qualquer semelhança com os líderes religiosos de hoje em dia é pura coincidência, ok amiguinho?), ele fica muito puto e resolve destruir todas as cópias do “Projeto Racional” – por isso que hoje em dia é raro encontrar um vinil que seja da época, pois em grande parte ele tacou fogo. Aliás, eu tenho um e é de época 🙂

Bom pessoal, espero que todos tenham gostado das histórias contadas acima e desse bate papo gostoso, eu recomendo vocês ouvirem e curtirem esse disco. Por muito tempo Tim Maia se recusou a falar sobre esse disco, e quem resgatou a cultural racional do cantor foi Marisa Monte em seus discos nos anos 90. Então, não percam tempo e se embalem no Universo em Desencanto.

Faixas do Disco

1 –  Imunização Racional (Que Beleza)

2 – O Grão Mestre Varonil

3 – Bom Senso

4 – Energia Racional

5 –  Leia o Livro Universo em Desencanto

6 – Contacto com o Mundo Racional

7 – Universo em Desencanto

8 – You Don’t Know What I Know

9 – Rational Culture

10 – Ela Partiu

11 – Meus Inimigos

Ouça o álbum Tim Maia Racional – Volume 1 completo!

Assista um trecho do especial Por Toda Minha Vida de Tim Maia na fase racional

Confira matéria do Fantástico sobre Tim Maia Racional.

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Tim Maia – 1970

Tim Maia – 1970

Eis que surge a inspiração para comentar o primeiro disco de um dos melhores artistas brasileiros, não é demagogia galera, Tim Maia ainda é uma grande referência para vários músicos experientes e para os iniciantes também!

Quem nunca ouviu as músicas do “gordinho” mais querido do Brasil? Músicas como, Azul da cor do mar, Chocolate, Primavera e Me dê motivo? São músicas desse gênero que incorporam multidões e que ainda permanecem nos ouvidos dos mais velhos (Minha mãe curte Tim pra caramba!) e dessa leva de jovens (que me enquadro também) que conhecem e curtem cada vez mais esse cara, que simplesmente tocou o coração de todos, com suas histórias loucas, suas músicas inspiradoras trazendo um novo estilo e um jeito diferente de se tocar no Brasil.

Portanto, tenho inúmeros motivos para trazer a vocês que acompanham o Blog “A História do Disco” a trajetória desse artista brasileiro, aquele cara que reclamava de tudo “MAIS GRAVE, MAIS AGUDO, MAIS TUDO!” (Como propriamente Nelson Motta comenta em seu livro sobre Tim).

Breve comentário sobre Sebastião ou Tião Marmiteiro.

Rio de Janeiro, cidade maravilhosa, é lá em que Tim viveu sua infância, onde aprendera as suas primeiras tarefas musicais e lá que conheceu seus amigos que posteriormente se tornariam grandes ícones da música popular brasileira, amigos como: Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Jorge Ben Jor.

Sebastião Rodrigues Maia, um sujeito de personalidade forte, cara briguento, são essas as características que compõe o nosso saudoso Tim Maia, que na sua infância ajudava seus pais na pensão que mantinham que posteriormente virou uma casa onde se produzia marmitas. Adivinha quem era o encarregado de levar as comidas nas regiões? Tião! Sim, Tião como era conhecido, levava as marmitas para os clientes de seu pai, que de quebra era um excelente cozinheiro e que tinha uma fama muito boa na Tijuca. É dentro desse contexto que Tião ganha a sua fama de “Tião Marmiteiro” apelidado carinhosamente pelos seus amigos.

Tim era encarregado de levar as comidas para as famílias que acionavam seu pai e há muitas histórias de Sebastião onde no caminho comia uma coxinha, um pouco do arroz e saboreava um pouco da sobremesa, que tarefa complicada para esse nosso amigo!

Pois é, Sebastião foi crescendo e o interesse pela música começou a florescer em sua vida. O primeiro gênero musical a compor a sua vida foi o rock n roll, em meados dos anos 50 começava a surgir os primeiros hits do rock no Brasil, a rádio era um meio de comunicação muito utilizado na época e foi mergulhado nisso que Tim começou a gostar de música.

Na adolescência ganha seu primeiro instrumento, dado por seu irmão, um cara religioso e que tinha um grande afeto por Tim, presenteou com um violão que foi a alegria do menino, só que como Sebastião era um menino atrevido e nervoso, certo dia ficou tão nervoso com um de seus amigos, que em um dos ensaios acabou estourando o violão no chão (Eis a atenção, pois, começa aí a fúria de Tim!). Tendo contato com Erasmo, Tim Maia forma seu primeiro grupo de rock, Os Sputniks, esse nome escolhido por Tim, justamente nessa época a União Soviética enviara para o espaço as primeiras aeronaves espaciais, os sputniks é claro, Tim também era um cara muito fissurado por OVINI’S. A primeira banda era formada por Tim Maia, Erasmo Carlos e por nada mais nada menos que Roberto Carlos.

Um ensaio aqui, outro ensaio ali, foram saindo os primeiros sons de rock n roll entre amigos, e nesse clima eufórico, Os Sputniks conseguiram fazer um pequeno concerto em uma quermesse da igreja localizada no bairro onde os meninos moravam, igreja na qual Tim Maia fez parte do coral, cantando várias músicas e ganhando apoio dos padres. Só que nessa vida nada é um  mar de rosas, a banda acabou tendo um desfecho depois de consecutivas brigas entre Tim Maia e Roberto Carlos, brigas essas que eram marcadas por Tim falando “Você é um bosta cara, canta porra nenhuma, é um merda, eu canto melhor que você, seu bosta!”, é no meio desse clima tenso que a banda se desfez.

Roberto Carlos segue sua vida e Tim também, esse menino resolve então ir para os EUA, queria por que queria ir viajar para América. Contra a vontade de seus pais, Tim consegue ajuda dos padres e por teimosia viaja para a terra do Tio Sam lembrando que é nesses ares estadunidenses que Tim vai concluir seu estilo Funkeado com pitadas de Soul Music. Vive por 5 anos nos EUA, chega de supetão, sem avisar e fica instalado na casa da família dos conhecidos de seu pai.

Nesses 5 anos vividos nos EUA, morou em mais de 10 lugares nos diversos becos mais esquisitos dos ianques. Foi lá que Tim aprendera a ouvir a Motown Records, uma gravadora de som de peso, com ícones da música negra, ambiente esse que Tim se apaixonou e virou adepto aos estilos crescentes em território americano, enquanto isso, no Brasil, rolava o som da Bossa Nova, aquele som de boa, relax, numa tranquila e numa boa, que posteriormente iria ser um baque para todos quando Tim voltasse de lá e mais, foi lá que Tim aprendeu a usar os famosos Bauretes, isso mesmo, aquele baseado nervoso que ele fumava muito. Por fim, Tim, passou 5 anos nos EUA, aprendeu Soul, Funk e tudo que há de bom da Black Music, aprendeu a fumar maconha, chapar o globo e claro, foi preso por porte ilegal de drogas e foi deportado para o Brasil. É agora que o clima esquenta!

Tim de volta ao Brasil!

Pois é, Tião voltou para o Brasil em meados dos anos 60, não sabia nada do que se tinha ocorrido em seu país, muita coisa mudou depois de sua viagem ex-colegas de banda ficaram famosos.

Se tem uma coisa nesse mundo que deixou nosso querido Sebastião puto, foi em saber que seu amigo de juventude, Roberto Carlos estava famoso. Sabendo disso tudo, ele quis  de qualquer maneira mostrar para Roberto que ele poderia ser melhor que ele, e pôde! Da sua boca saia “Como pode, aquele filho da puta do Roberto ficar famoso e eu não? Eu canto muito mais que aquele filho da puta, eu vou matar ele”. É caro leitor, ele quis mesmo encontrar Roberto e matá-lo. As primeiras tentativas foram frustradas, mas foi tentando até conseguir os primeiros contatos. Consegue falar com Roberto, que despreza o nosso amigo Sebastião e recusa aceitar um trabalho dele, pois, nosso amigo estava na pior, sem um puto, sem nada. Mas posteriormente Robertão iria ajudar e muito nosso amigo.

Com a ajuda de alguns amigos, Tim fica hospedado na casa de seu amigo Fábio Stella, um cantor famoso paraguaio da época, foi esse cara que ajudou muito Tim Maia. É nesse momento em que Tim começa a compor os clássicos que fariam parte desse primeiro disco. Destaque para Azul da Cor do Mar, que todo mundo acha que é uma música triste e realmente é, essa música foi escrita em um momento difícil na vida do nosso camarada, época onde todo mundo estava se dando bem e ele ferrado. Seu amigo Fábio saia com todas as mulheres e ele, solitário. Foi nesse clima de “entra e sai” de seu amigo Fábio que Tim escreve esse clássico. Nesse período saíram várias canções boas, como a These are The Song, que futuramente iria inspirar Elis Regina a gravá-la acompanhada por Tim. (Um dueto de tirar o fôlego).

É em meio a esse clima que Tim consegue alguns bicos nas rádios da época onde ele cantava músicas, e foi lá que Tim conheceu a banda Os Mutantes (amigos logo de cara, e vários baseados queimados juntos!), essa banda que já tinha contrato com a Polydor, recomenda Tim para a gravadora, que o contrata.

Com suas músicas prontas, Tim despertara interesse de várias pessoas que eram do ramo musical, como no caso do produtor musical Nelson Motta (Que inclusive, se tornou um grande amigo pela vida toda, e que escreveu uma biografia e tanto sobre Tim Maia). Nelson chegou com uma música de Tim no estúdio, Primavera, e todos ficaram loucos e apoiaram esse novo artista que chegava no pedaço. É aí que Tim grava um dueto com Elis Regina cantando a música mencionada acima, These are the Song.

O primeiro disco do Tim saiu em 1970, seu disco de estreia arrebentou o público que adorou logo de cara, fato muito raro na música, um artista ser adorado logo de cara e ter uma aceitação imediata. Esse disco é importante na música brasileira, pois, essa obra contém estilos variados de ritmos, desde o funk com baião (Coroné Antonio Bento) até as baladas românticas (Que Tim chamava de Mela Cueca e Esquenta Suvaco).

Anteriormente Roberto Carlos tinha gravado em seu disco de 1969 a música, Não vou Ficar, de autoria de Tim, esse disco de Roberto estourara com essa música causando interesse e curiosidade de todos em querer saber quem era esse artista, por isso a aceitação de Tim foi imediata. Esse disco foi eleito pela revista Rolling Stone como melhor disco brasileiro de todos os tempos, tendo a posição de 25º, por isso a importância dessa obra prima. E por fim, esse disco consolidou a carreira de Tim, com clássicos como Primavera, Azul da Cor do Mar, Cristina (que tem duas versões) que vai do rock ao soul, que faria da carreira desse mestre fodástica, que traria discos conceituais posteriormente, mas isso é outra história que prometo contar em breve.
Um disco e tanto, que é dever de todos os bons ouvintes terem, um disco que recomendo e que não pode ser esquecido. Ainda mais porque que estreou o seu filme e eu estou louco para assistir!
Segue as provas de que eu Flávio Oliveira sou fã de Tim Maia:

Faixas do Disco

Lado 1

1 –  Coroné Antônio Bento

2 –   Cristina

3 –   Jurema

4 –   Padre Cícero

5 –   Flamengo

6 –  Você Fingiu

Lado 2

1 –   Eu amo Você

2 –   Primavera (Vai Chuva)

3 –   Risos

4 –   Azul da Cor do Mar

5 –    Cristina Nº2

6 – Tributo a Booker Pittman

     Ouça o 1° Disco de Tim Maia completo!

    Veja o trailer oficial do filme Tim Maia!