Nirvana – Nevermind (1991)
Olá amigos e amigas que acompanham o blog A História do Disco, tudo bem com vocês? Espero que sim, hoje eu, Flávio Oliveira, falarei de um disco de extrema importância no cenário mundial, que levou o circuito alternativo ao grande público. Todos devem lembrar ou imaginar como era o cenário da década de 90, não é? Metallica, Guns n’ Roses, e… Nirvana! Pois bem, hoje nossa resenha destaca o segundo álbum de estúdio do Nirvana, uma das principais bandas do período, este período aliás, que muitos dizem que foi o de rompimento e quebra total do punk rock. Me desculpem pelo trocadilho e por utilizar como metáfora o documentário ‘1991: Year Punk Broke’ para dar início a esta matéria, mas o que vale é a intenção.
Antes de entrar no mérito do álbum ‘Nevermind’, vale apontar alguns acontecimentos do início da carreira do Nirvana. A banda surgiu em meio a uma decadência do cenário musical, do caos social, político, e também de uma monotonia que habitava Aberdeen, em Washington. Jovens que estavam entediados com a morbidez do clima escolar e também com uma sociedade brejeira sem tem o que fazer, e esses jovens encontraram na música uma forma de fugir disso tudo e de se libertar da caretice. Em meio a tudo isso, estava o garoto Kurt Donald Cobain, um rapaz sempre solitário e sem amigos, que buscava algo que o motivasse a seguir a vida em meio a este contexto. Foi então com o auxílio de seu colega Buzz Osborne – que lhe indicou vários sons de rock e que fez o garoto “pirar o cabeção de vez no punk rock” – que Kurt decidiu tocar guitarra e ter uma banda.
A amizade criada entre Kurt Cobain e Krist Novoselic durante o período escolar foi de extrema importância, ambos se conheciam de vista, e nos ensaios da banda Melvins a relação foi ganhando mais força. O autor Charles R. Cross ressalta esse momento em seu livro (Heavier Than Haven, em português ‘Mais Pesado Que o Céu’ – lançado em 2001) como fundamental na consolidação do Nirvana.
Em meados dos anos 80 a banda se estabelece firmemente no grunge de Seattle (o grunge que muitas vezes foi chamado de ‘Som de Seattle’, é um subgênero rock alternativo inspirado no Hard Rock, Punk Rock, Indie Rock e Heavy Metal) com a primeira formação composta por: Kurt Cobain (vocal e guitarra), Krist Novoselic (baixo) e Aaron Buckhard (bateria). Nesse período o Nirvana ficou conhecido como uma banda que teve vários bateristas, isso talvez esteja ligado a ausência de um feeling de rock que os bateristas que passavam pela banda não tinham.
O primeiro disco da banda foi financiado pela gravadora alternativa Sub Pop, o álbum intitulado ‘Bleach’ de 1989, que foi gravado por Jack Endino (que posteriormente produziu dois discos do Titãs, o Titanomaquia em 1993 e o A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana em 2001), e neste álbum o Nirvana era integrado por: Kurt Cobain, Krist Novoselic, Jason Everman (segunda guitarra) e Chad Channing (na bateria). A recepção do público e da crítica na época não foi das melhores, mas a gravação do álbum trouxe satisfação à banda. A partir do segundo álbum de estúdio o Nirvana entrou nas paradas de sucesso e se consagrou no mundo do rock.
Nevermind é o segundo álbum de estúdio da banda, e é caracterizado como um dos momentos de ruptura do grupo em diversos sentidos. Primeiro, a banda dispensou Jason Everman (segundo guitarrista, que posteriormente ingressou no Soundgarden, se tornou soldado do exército americano e recentemente é professor de sociologia), que como reza a lenda, teria custeado o disco (eu acredito que é uma mera lenda), e houve também a saída do baterista Chad Channing. Segundo, a banda mudaria completamente as formas de criação das canções e Kurt passou a se inspirar bastante na banda Pixies (uma baita banda por sinal, fica aí a dica!).
O disco se concentrou apenas em um power trio (que podemos dizer que é a essência do rock) contando com uma novidade na banda: a entrada de Dave Grohl, assumindo a bateria. Quem apresentou Dave à Kurt Cobain foi Buzz Osborne. Não é porque sou baterista, mas nesse disco eu dou mérito integral à Dave Grohl, pois foi a partir de sua entrada que o Nirvana tomou forma e se consolidou como uma banda de rock de verdade.
Em 24 de Setembro de 1991 o disco foi lançado pela DGC Records (um selo da gravadora Geffen, na qual o Nirvana conseguiu entrar na major através da ajuda da banda Sonic Youth – que eu também recomendo), e foi produzido por Butch Vig. Inicialmente ninguém botou fé no disco, nem mesmo os integrantes da banda, mas no final de 91 as coisas começaram a mudar, graças ao enorme sucesso do single Smells Like Teen Spirit. A música foi inspirada em toda ideologia que Kurt vivia, ele teve um breve relacionamento com Tobi Vail, uma ativista feminista que integrou bandas como Bikini Kill, e foi com essa banda que eclodiu o movimento feminista Riot Grrl (ou riot girl), movimento esse que abrange fanzines, festivais, bandas de hardcore punk e feminismo. A intenção do movimento é informar às mulheres, seus direitos e incentivá-las a reivindica-los. Tudo isso incentivou demais Kurt a compor mais sobre o direito das mulheres na sociedade e também sobre a juventude.
Em meio a todo o contexto citado acima, tínhamos um momento em que o mundo conspirava para dias melhores – fim da Guerra Fria, queda do Muro de Berlim, e o fim das ditaduras na América do Sul -, ou não. O álbum alcançou marcas extraordinárias com o single Smells Like Teen Spirit, desbancando artistas consagrados dos anos 90, como por exemplo, Michael Jackson com o disco Dangerous (1991) e o Nirvana decolou nas paradas da Billboard. Foi nesse contexto que a banda chegou ao tão inesperado estrelato, abalando mais e mais a vida de Kurt Cobain.
O álbum é recheado de sucessos, trazendo ‘Come As Your Are’, ‘In Bloom’ (com um videoclipe inspirado nos programas em que os Beatles se apresentavam nos anos 60), ‘Lithium’, ‘Territorial Pissings’, ‘Drain Train’, entre outros clássicos. Podemos afirmar que o álbum Nevermind literalmente desbancou várias bandas e também o mainstream, pois, desde o movimento punk na Inglaterra, com a consolidação do Sex Pistols, nunca se tinha visto um movimento underground alcançar o topo mais alto das paradas. E foi isso que deixou a banda enfurecida. O estrelato, a bajulação da mídia e rotulação foram coisas que deixaram Kurt furioso. Em um recente documentário sobre a vida de Kurt Cobain (Cobain: Montage of Heck – disponível na Netflix) , Krist fala que o sucesso repentino desestruturou o lado emocional de Kurt, pois ele perdeu sua vida social e isso colaborou e muito para o uso abusivo de drogas por parte do vocalista.
O álbum Nevermind foi considerado pela revista Rolling Stones o melhor disco de todos os tempos, e esse título é justo, pelo menos na minha humilde opinião, pois o Nirvana mudou o cenário da música nos anos 90 e mexeu com toda uma geração. O disco em si pode ser rotulado como pop, mas ao mesmo tempo agressivo, com a fórmula inconfundível do Nirvana. Esse disco influenciou uma geração e trouxe novas formas de compor, e de se vestir – o jeans surrado e as camisetas de flanela listrada se tornaram trajes obrigatórios dos jovens dos anos 90 -, e ainda vale citar que, o disco vendeu mais de 30 milhões de cópias pelo mundo todo. E sem contar a capa do disco (um bebê nu nadando atrás de um nota de dólar) que é muito citada em várias entrevistas, mas não entraremos nesse mérito, o que quero ressaltar nesta resenha é a sonoridade da banda e a importância do disco.
Muitos sabem que, posteriormente o Nirvana gravaria discos mais ‘fodásticos’ que esse (na minha modesta opinião), como o In Utero (1993) e o MTV Unplugged (1994). Posteriormente teríamos o triste desfecho da banda, com o suicídio de Kurt Cobain. Mas deixando as tristezas de lado, eu recomendo esse grande disco à vocês, ouçam Nevermind pois ele é um álbum fundamental na história do rock, com certeza deixou um legado e é foda do começo ao fim.
Abraços pessoal, e até a próxima!
Faixas do Disco
1 – Smells Like Teen Spirit
3 – Come As You Are
4 – Breed
6 – Polly
7 – Territorial Pissings
8 – Drain You
9 – Lounge Act
10 – Stay Away
11 – On A Plain
12 – Something In The Way
Ouça o álbum Nevermind completo!