Lobão – Cena de Cinema (1982)
Olá pessoal, como vão vocês? Espero que bem e em meio a essa onda de conhecimentos novos musicais, eu Flávio Oliveira quero compartilhar com vocês o disco que é considerado “cult” pelo próprio artista e que para muitos é bem polêmico. Estamos falando de um grande disco, Cena de Cinema, de 1982, um belo disco de estreia de Lobão, que nesse período havia rompido com a Blitz (Claro, deixando todo mundo puto!!!) e partindo para fazer carreira solo.
Mas antes de entrarmos no mérito de comentarmos o disco, quero fazer um breve parêntese o sobre o artista Lobão.
João Luiz Woerdenbag Filho nascido no Rio de Janeiro em 11 de outubro de 1957 é um músico e compositor brasileiro (muito polêmico atualmente, mas não levaremos isso em consideração).
João Luiz (vou preferir chamá-lo de Lobão mais adiante) teve sua infância marcada por momentos de revelação musical e de muita opressão pelos pais, a partir daí entenderemos o porquê o nosso amigo Lobão irá ter uma posição bastante rebelde em sua vida.
Único filho do casal foi diagnosticado ainda criança com uma doença rara e que exigia muito cuidado, Lobão teve nefrose (uma inflamação nos rins) e por isso, a maior parte do seu tempo não teve uma infância normal como a de todos os moleques, fora poupado de atividades comuns que um menino poderia fazer. Por isso fora um garoto muito bem cuidado pela sua mãe, Dona Ruth, que por sua dedicação de mãe e toda a sua responsabilidade, Lobão aos 10 anos foi curado (um caso raro, pois o menino fora um dos primeiros casos de cura dessa doença), mas enfim, partindo desse leque de informações, podemos entender de onde surgiu esse interesse de Lobão pela música.
Suas férias no sítio da família em Rio da Pedra no Rio de Janeiro fizeram muito bem para ele, tendo tios com gostos refinados, ele aprendeu a ter um gosto excêntrico por música desde cedo e foi nessas festas familiares que o menino lobo descobre seu primeiro instrumento, que foi a bateria. O menino ganhará de sua avó a sua primeira bateria e partir desse momento, começa a tirar sons e ter uma capacidade musical incrível. Um detalhe bastante curioso, João Luiz, teve o apelido adotado por seus amigos pelo fato dele estar sempre com um macacão surrado e sempre com uma touca na cabeça, ganhando o apelido carinhosamente dado pelos amigos de Lobão e por isso ficou.
Foi na escola com cerca de 13 anos que começou a ter contato com amigos que partilhavam da mesma paixão e interesse pelo rock n’ roll, e existe uma passagem sua muito cômica, onde dois garotos mais velhos descobrem quem é o rapaz que faz um “barulho” na batera do apartamento próximo onde eles moravam e por isso resolvem marcar um som. No dia do tal som, a mãe do jovem Lobão não estava em casa, e o encontro rolou com várias músicas de rock n’ roll e a notícia se espalhou por todo colégio e fora marcado outro dia para um novo encontro. No outro dia o menino teve a infelicidade de ficar sabendo que sua mãe estava em casa e os jovens (que na mentalidade de sua mãe, eram delinquentes e marginais por gostarem de rock) foram descobertos e expulsos por Dona Ruth, deixando o menino muito frustrado e com muita vergonha.
A partir desse contexto que percebemos a tamanha repressão que Lobão sofria mediante aos pais, conservadores e com mentalidade muito atrasada para aquele tempo. Mas partindo um pouco mais afrente em sua história, o menino com seus 17 anos conhece o nosso saudoso Lulu Santos, que na época tinha a tal famosa banda carioca, Vímana, que Lobão tinha assistido com um amigo naquele tempo, e em meio a essa história um amigo dele que era bem próximo de Lulu descobre que a banda está sem baterista e resolve colocar ele para fazer um teste, lembrando que, a banda Vímana só tinha craques, contando com: Ritchie (sim, aquele carinha que cantava Menina Veneno) e Lulu Santos.
Feito o teste, o garoto com seus 17 anos passa, mas fica inseguro por seus pais não o deixarem tocar em bandas de rock, segundo eles: músicos não tem futuro e sempre viveram em decadência usando drogas. Fica aí um pensamento conservador e muito moralista, mas em suma, o menino conseguira fazer parte da banda. Foi acompanhado por um responsável em todos os shows (que era nada menos que Nelson Motta) e a banda se apresentava em espetáculos da atriz Marília Pêra. Depois de um tempo o grupo começa a ter divergências, mais precisamente quando o músico Patrick Moraz (tecladista do YES) entra na banda e vem com novas modalidades para a banda, essas divergências ocasionariam a saída de Lulu e a banda ficaria na mesmice de querer fazer um som diferente, isso porque naquela época o rock progressivo perdera a força sucintamente. No final das contas Lobão acabou ficando com a mulher de Patrick e a banda terminara.
Em meio a essa turbulenta história, Lobão conhece o jovem Evandro Mesquita e os mesmos resolvem montar uma banda, aliás, toda a banda fora ideia de Lobão. A banda recebeu o nome de Blitz, só que existe um detalhe, em meio a essa ruptura de Vímana e a criação da Blitz, Lobão estava produzindo seu o disco, Cena de Cinema, que fora pago por seu amigo Ignácio e teve colaboração de todos os seus parceiros (como a cantora Marina, que contribuiu em composições e também com Lulu Santos, que ajudou com arranjos e solos em várias músicas). E é nesse momento na história de Lobão que a banda Blitz decola e começa o sucesso. Lobão começa a ser pressionado pelos integrantes da banda para deixar de lado o seu projeto solo e partir na banda (onde ele apenas tocava bateria), só que o rapaz não queria abandonar o esforço de todos seus amigos em ajuda-lo e resolveu dar uma “trapaceada” com na Blitz.
É nesse momento onde muitas pessoas acham que foi “cachorrada” do Lobão, mas eu, Flávio Oliveira, acredito que foi uma atitude espontânea e um meio de se autopromover. Lobão disse à banda que iria continuar na Blitz e que iria esquecer seu projeto solo e é nesse instante que a banda recebe um convite para ser capa de uma revista, cedendo entrevistas e contando as novidades da banda (que começara a alavancar sucessos nos anos 80). Pois bem, Lobão deu entrevistas (falando bem de si mesmo) e tirou fotos.
A revista saiu, Lobão a pegou e foi para uma gravadora (RCA VITOR), e conseguiu um contrato para poder lançar o seu disco, Cena de Cinema. Cachorrada? Pilantragem? Não podemos julgar o mesmo, o que podemos salientar é que o rapaz fora pressionado a esquecer de seu disco, que fora presenteado por um amigo e feita toda uma produção independente. Lobão considera essa atitude “Show Business” e tacou o “foda-se”. Conseguido o contrato começou então a odisseia de “Cena de Cinema”.
O disco em si tem várias composições muito bem feitas como a própria canção-titulo do disco, Cena de Cinema, essa que tem uma letra bem interessante de amor e sua suavidade na guitarra (nesse ponto Lobão começa a tocar guitarra). Temos também a faixa, Amor de Retrovisor, que posteriormente tornara-se um clássico dele, tocada em vários shows e também a música Love pras Dez. Um disco muito bom de ser ouvido e com canções marcantes, bateria com toques interessantes e mistura de vários elementos que ele transpôs em todo o disco.
Existe mais uma história polêmica desse disco que vale a pena comentar (brevemente, claro rs), que é a questão da briga entre Lobão e Herbert Vianna. Lobão guarda um certo ódio ainda, ressentido até os dias de hoje em relação ao frontman da banda Os Paralamas do Sucesso, o caso foi o seguinte: Lobão conhece Barone que dizia ser muito seu fã, por ter ouvido Cena de Cinema e explanando ressaltou que até nos ensaios da banda eles tocavam canções do disco do rapaz. Fora nesse momento em que Lobão conheceu Herbert em um hotel onde bandas da gravadora estavam reunidas e os dois começaram a mostrar canções um para o outro.
Passado isso, é lançado o primeiro disco dos Paralamas do Sucesso e é aí que vem a bomba do assunto. Um amigo de Lobão comprou o disco e percebeu certo tom de plágio da banda, onde se evidenciavam vários elementos e ideias de Lobão que em ocasiões passadas tinha sido mostrada para Herbert. Pois é caros leitores do blog A História do Disco, eu Flávio Oliveira fiz os testes e realmente tive a impressão de que as canções soam como o disco Cena de Cinema, os elementos da guitarra são bem parecidos e até uma música que é canção-título do disco ressalta o plágio, o disco dos Paralamas se chama “Cinema Mudo”, fica aí a questão em aberto e vocês pode tirar dúvidas, sendo que o disco de Lobão não teve tantas repercussões como o do Paralamas. Mediante a essa história ardente de ódio, Lobão ficara puto e revoltado com a vida.
O disco em si fora pouco divulgado, acarretando em brigas de Lobão com a gravadora, inclusive havendo a quebra de várias partes da sede da mesma. Com isso, Cena de Cinema caiu no esquecimento e ficou por isso mesmo, como o próprio Lobão diz: Ficou na geladeira e se tornou um disco Cult.
Posteriormente Lobão se juntaria com amigos de colégio e assim formariam a banda Lobão e os Ronaldos, concebendo canções que fizeram sucesso e ainda hoje chamam a atenção dos ouvintes, como: Me Chama, Corações Psicodélicos e Décadénce Avec Élégance, mas isso é outra história. Por isso, ficam aqui minha dica e contribuição à vocês leitores do Blog, Cena de Cinema um disco Cult, polêmico e com muita pegada rock n’ roll dos anos 80, este que estava entrando no seu apogeu. Espero que gostem do disco de hoje! Abraço pessoal, até mais!
Faixas do Disco
LADO A
1 – Cena de Cinema
2 – Amor de Retrovisor
3 – Love pras Dez
4 – O Homem Baile
5 – O Doce da Vida
LADO B
1 – Stopim
2 – Squizotérica
3 – Sem Chance
4 – Scaramuça
5 – Robô,Robôa
Obs.: Infelizmente não encontramos um link com o álbum Cena de Cinema inteiro com uma boa qualidade de áudio, mas abaixo segue algumas faixas separadas do disco com boa qualidade.
Ouça um dos destaques do Lado A de Cena de Cinema, a faixa Love pras Dez.
Assista ao videoclipe da faixa que dá nome ao 1° disco de Lobão, Cena de Cinema.
Compare a música Cinema Mudo dos Paralamas do Sucesso com o disco Cena de Cinema de Lobão.