Legião Urbana – O Descobrimento do Brasil (1993)
Olá pessoal, tudo bem com vocês? Espero que sim, pois hoje a resenha é sobre um disco sensacional, na minha modéstia opinião é um dos melhores discos dos anos 90, SIM (com direito a letras garrafais). Eu, Flávio Oliveira, farei uma breve análise sobre esse grande disco da Legião Urbana: O Descobrimento do Brasil.O disco foi lançado em 1993 e pode ser considerado inovador, um recomeço (como uma descoberta de si mesmo) e também um legado deixado pelo nosso queridíssimo Renato Russo (aliás, sempre seremos gratos pela obra criada por você). Antes de adentramos ao disco irei fazer alguns comentários sobre à banda, ao cenário em que os integrantes da banda viviam, os problemas enfrentados por Renato quando o mesmo descobriu que portava o vírus do HIV, o problema com o alcoolismo e como ele tentou se “limpar” em meio ao caos que sua vida estava. tudo bem com vocês?
Contextualizando a obra
O Brasil dos anos 90 ainda estava tentando se recuperar de todo o desgaste que sofrera com o sistema autoritário da ditadura militar que durou mais de 20 anos, ceifando vidas de vários jovens e adultos que lutaram dignamente por mais igualdade e liberdade de expressão na sociedade brasileira. Esse período também foi marcado pela posse do presidente Fernando Collor de Mello, conhecido midiaticamente na época como “caçador de marajás”. Mas o que tudo isso tem haver com o disco “O Descobrimento do Brasil” e com o rock nacional!? Tudo, primeiramente vamos à um breve comentário sobre o que o presidente Collor fez: o mesmo “sequestrou” toda a grana que a população guardava em poupança, levando assim várias famílias de trabalhadores à miséria. Com essa situação vários músicos da época foram influenciados, inclusive a Legião Urbana.
O ano de 1993 foi marcado como o “ano dos suicídios” (você caro leitor se lembra deste trecho: Vamos festejar a violência e esquecer a nossa gente, que trabalhou honestamente a vida inteira e agora não tem mais direito a nada), pois várias pessoas mediante a este caos, tiraram suas vidas. Em meio a esse caos na sociedade com vários civis sendo prejudicados, iniciam-se vários manifestos e protestos de vários setores da sociedade. Um deles foi liderado por jovens e foi conhecido como movimento dos “Caras Pintadas”, os mesmos lutaram pelo impeachment do presidente Collor. Por isso, fica óbvio o porquê do disco que vou comentar hoje ter uma carga ideológica bem presente em todas as faixas, bem como o mesmo fala também sobre coisas da vida. Bora falar do disco então o/
O Descobrimento do Brasil – O Disco
Lançado em novembro de 1993, O Descobrimento do Brasil é o sexto álbum de estúdio da Legião Urbana. Este disco, diferente de seu antecessor (V de 1991) é um disco mais leve, menos depressivo e que você pode ouvir sem ter pressa alguma de que ele acabe. Em suma, o disco sou como uma verdadeira música ambiente (entendedores entenderão o trocadilho hahaha). O álbum se concentra em torno das ideias renovadas de Renato, que depois do disco V (que é marcado pelos sons e letras obscuras) – tudo isso reflexo de seus problemas com álcool, drogas e também pelo seu enorme estado depressivo – passou por uma clínica de reabilitação, neste tempo o porta voz da Legião Urbana descobriu que era portador do vírus HIV. Foi na instituição com “a primeira letra do alfabeto repetida duas vezes” (como ele bem mesmo disse na entrevista à Jô Soares no programa 11 e Meia, em 1994) que ele passou por um processo de reavaliação de todos os seus problemas pessoais, bem como um processo de autocrítica, coisa que convenhamos, é muito difícil de fazer. Essas questões em torno de sua vida estavam relacionadas ao fato de Renato ter se tornado pai e assim ter que dar o exemplo ao seu filho, e também claro, e também suas atitudes nos shows, que na última turnê anterior deixaram muito a desejar. Como Dado disse em seu livro (Memórias de um Legionário): Renato tinha se tornado um barril de pólvora, uma cara bipolar que não conseguia conter suas emoções
Contudo que contei acima, fica óbvio que se Renato não tomasse um rumo, as coisas iriam piorar. Por isso, reavaliou seus conceitos e foi em busca de tratamento e melhoras na sua vida. Isso se torna evidente no disco de hoje de nosso blog, depois de ficar alguns meses recluso e passando por um tratamento especializado em dependentes químicos, Renato passou a melhorar. Um adendo muito interessante: Para quem quiser se aprofundar e saber mais sobre este tratamento do Renato basta ler o livro “Só por hoje e para sempre”, escrito por Giuliano Manfredini – filho de Renato Russo – o livro contém escritos originais do cantor (isso mesmo, letras a próprio punho do Renato), que registrava todas as suas atividades com TO (Leia-se Terapia Ocupacional) e como era difícil esse processo de reabilitação vivido pelo legionário. Li o livro em um dia, é sensacional, mas como eu ia dizendo, nesse processo de reabilitação Renato se “limpou” e compôs uma séria de letras falando de sua vida, ressaltando momento nostálgicos e falando do seu recomeço. Por isso, vale a pena comentarmos sobre algumas faixas do disco O Descobrimento do Brasil.
Começamos pela belíssima música “Vinte e Nove”, Renato Russo inicia a canção com “Perdi vinte em vinte nove amizades/ Por conta de uma pedra em minhas mãos […]”, com essa abertura fica óbvio que seus problemas o levaram a nada, acarretando na perda de amizade e de pessoas bem próximas. Essa música tem uma letra bem marcante, muita gente questiona o porquê do “vinte e nove”. Pois bem, vamos à explicação de Dado Villa Lobos em seu livro “Memórias de um Legionário” já citado acima, ele ressalta que relacionado com a astrologia mo qual Renato era vidrado, ou seja, no trecho em que o cantor diz: “E aos vinte nove com retorno de Saturno, decidi começar a viver”, é neste momento de sua vida que seu signo retornado à Saturno indicava um começo, no qual coincidia com essa sua nova fase de sua vida. Também é bacana citar o formato desta música, algo marcante, faixa limpa, rápida e que não tem um refrão – assim como “Há tempos” no disco As Quatro Estações – e a mesma ganha características de um novo instrumento, no caso o bandolim, tocado por Dado.
Partindo para outra canção, podemos falar da segunda faixa , “A Fonte”, que é marcada por Renato Russo questionando a si mesmo já no início da canção: “O que há de errado comigo, não consigo encontrar abrigo…” e percebam, essa música é marcada por várias vozes ao fundo com um Renato gritando e fazendo vários questionamentos da sua vida como “O que há de errado comigo, eu não sei nada e continuo limpo”, no qual nesse trecho marca os seus questionamentos levantados em seu processo de reabilitação que é marcado por um grande processo de reavaliação. Pode-se dizer que essa música é bem forte no âmbito do cantor querer se renovar e “se libertar dessa culpa”. bro
Vamos agora para a terceira faixa, é interessante citar as primeiras músicas desse disco pois as mesmas abrem o álbum de uma maneira renovadora, com toques diferentes e sobretudo com as renovações em que Dado estava se pautando, alias, fica bem nítido as suas inspirações utilizando guitarras bem sujas “à lá” In Utero do Nirvana. A faixa “Do Espírito” por exemplo é uma música que tem muito bem essas características, com um toque bem rock n’roll (sujo), nos levando ao clima grunge que estava se disseminando no país, pois nesse mesmo ano o Nirvana havia se apresentado no Rio de Janeiro e também em São Paulo, no famoso Hollywood Rock. As partes mais presentes na letra de “Do Espírito” são de um Renato bem raivoso e com o espirito rebelde do rock, que alias, se encaixa bem com a próxima música: Perfeição.
A faixa “Perfeição” tem toques eletrônicos que foram compostos por Marcelo Bonfá junto as batidas ritmicas de sua bateria e que complementa as batidas ‘sampleadas‘. A letra dessa música segue parafraseada como se fosse um Hip Hop no qual se pauta em canção falada, ou seja, não é cantada melodicamente. Perfeição é uma canção-protesto na qual o compositor mostra toda sua indignação com nosso país, este que se encontrava desigual, miserável, e com muitas pessoas passando dificuldades (olhem só, de 1993 pra cá não há tanta diferença). A música segue o mesmo padrão da faixa “Vinte e Nove”, não tem a estrutura de uma canção comum que contém versos, refrão e assim por diante. Perfeição segue de uma maneira bem extensa e apensa no final a mesma nos remete a um refrão. Em uma edição do glorioso “Programa Livre” (que era exibido no SBT por Serginho Groisman) Renato canta com o encarte do cd na mão pois Perfeição é bem longa.
Vamos agora para uma música mais calma do disco, temos a canção título do álbum: O descobrimento do Brasil. Antes da faixa citada anteriormente temos uma outra faixa bem calma e que nos remete os tempos coloniais brasileiros. Como citado ao longo dessa matéria esse é um disco bem climático e que combina com um momento de relaxamento e uma excelente oportunidade para curtir os prazeres de um bom disco, pois bem, estou falando da canção “O Passeio da Boa Vista”.
Agora sim vamos para a faixa-título do disco, uma canção que retrata o cotidiano de muitas pessoas, sobretudo em tempo difíceis na sociedade brasileira que passava por um grande processo de recessão econômica. A faixa fala sobre um casal de jovens que sonham e que anseiam uma vida melhor (ou até mesmo sossegada) tudo isso com toques eletrônicos dando cores à canção. Percebam meus caros leitores que nessa canção Renato Russo faz referência a três pessoas que fizeram parte de sua vida, me refiro a: Professora Adélia, Tia Edilamar e a Tia Esperança. Em seu livro, Dado cita que a professora Adélia na época entrou em contato dizendo que era ela mesmo a professora que deu aulas à Renato, mas não obteve retorno da gravadora. Sendo assim, essa canção marca muito bem todo o carinho que Renato tinha com as pessoas que fizeram parte de sua vida e marca também uma canção que explora temas rotineiros e que também cita a nostalgia.
Vamos neste momento para a última faixa do disco, falarei sobre a canção que encerra este maravilhoso disco. Encerro aqui essa troca de experiência com você caro leitor falando sobre a música “Só Por Hoje”, que contém uma letra totalmente diferente das outras e que mostra um Renato motivador. A canção “Só Por Hoje” é um retrato bem evidente da vontade de nosso cantor em querer aprender a viver ‘um dia de cada vez’. Tudo isso, resultado de seu processo de reavaliação da vida e o sentido da mesma. Sendo assim, quando ouvimos o trecho “aprendi a viver, um dia de cada vez”, percebemos a carga positiva que a letra carrega, a mesma chega a me emocionar, marcando essa canção como um relato de recuperação e superação do vocalista da Legião Urbana. Essa canção também é marcada pela utilização de um novo instrumento, a sítar, instrumento este tocado por Renato.
Em suma galera esse disco é um retrato bem profundo de nosso eterno legionário, Renato Russo, aquela mesma figura que compôs “Será”, que compunha canções bem marcantes, músicas que fizeram e ainda fazem parte do repertório de vários casais (como no meu namoro, o Descobrimento do Brasil é um disco marcante pra mim e minha namorada) ou fazem parte da vida de pessoas que admiraram a obra de Renato Russo. Recomendo e muito esse disco, pois além de ser um clássico, é um disco que prova que quando estamos perdidos somos capazes de nos superarmos. Esse disco transmite toda a energia alegre, viva, que sempre penso que devemos levar de Renato, letras profundas e positivas que sempre incentivam as pessoas a irem atras de seus sonhos. Valew galera, essa foi a resenha sobre o disco O Descobrimento do Brasil da Legião Urbana e logo mais, eu Flávio Oliveira estarei de volta 🙂
Dedico esta matéria ao meu amor, Marielda Romano, a qual esse disco sempre será marcado como ‘o nosso disco’. Por isso , todos os comentários aqui explicitados são reflexões feitas a dois, quando pegamos aquele bolação, botamos na vitrola e ficamos filosofando.
TE AMO. ‘ NOSSA ONDA DE AMOR NÃO HÁ QUEM CORTE’.
Faixas do Disco
1 – Vinte e Nove
3 – Do Espírito
5 – O Passeio a Boa Vista
6 – O Descobrimento do Brasil
7 – Os Barcos
8 – Vamos Fazer Um Filme
9 – Os Anjos
10 – Um Dia Perfeito
11 – Giz
12 – Love In The Afternoon
13 – La Nuova Goiventú
14 – Só Por Hoje