Barão Vermelho (1982)
Olá pessoal, tudo bem com vocês? Espero que sim, eu sou Flávio Oliveira e hoje teremos uma resenha sobre uma banda muito especial para o rock brasileiro: Barão Vermelho.
Falar do rock nacional é explorar os diversos contextos que o nosso país vivia principalmente na década de 80, hoje a grande parte da juventude nem imagina o quanto era complexo fazer um som nessa época. Digo isso pois, vários músicos consagrados deste período ressaltam que formar uma banda na década de 80 era um tarefa árdua, mesmo porque, exigia certa grana (coisa que muitos não tinham) e sobretudo, muita vontade de fazer um som para expressar tudo aquilo que sentiam e que necessitavam expelir.
Comecemos pelos fatos que antecedem a formação do grupo Barão Vermelho, vale frisar que a vontade de tocar rock teve inicio com os garotos Guto Goffi (Flávio Augusto Goffi Marquesini) e Maurício Barros (Maurício Barros de Carvalho) – respectivamente com 17 e 19 anos de idade – que após assistirem ao show antológico da banda inglesa Queen em São Paulo em março de 1981, tiveram uma imensa vontade de montar uma banda de rock para serem como seus heróis do rock. Como todos sabem, Guto se arranjaria nas baquetas e Maurício nos teclados. No mesmo ano do show do Queen, só que no mês de outubro, no colégio em que Guto e Maurício estudavam (só que no Rio de Janeiro) surgiu a ideia de criar uma banda com o nome Barão Vermelho. O nome é uma alusão ao codinome que o aviador Manfred Von Richthofen utiliza durante a Primeira Guerra Mundial, aliás, o piloto era muito temido pelos Aliados. Posteriormente foram convocados para fazer parte do grupo, os jovens Dé (André Palmeira Cunha) para tocar baixo e Frejat (Roberto Frejat) para tocar guitarra. A banda utilizava a casa dos pais de Maurício como núcleo base (aah que trocadilho malandro) para ensaiar e ver como rolaria o entrosamento dos músicos – o que é fundamental. Como a banda ainda não tinha vocalista a pessoa que foi escolhida para fazer testes e ver se dava ‘liga’ foi nada menos que, Léo Jaime. Pois é meus caros, aquele rapaz com a voz doce, que cantou e emocionou (ou não!) toda a geração de 80 (atuando como ator nas novelas da rede Globo e também com as músicas: A Vida Não Presta, Gatinha Manhosa e As Sete Gatinhas) foi vocalista (provisoriamente, diga-se de passagem) do Barão Vermelho.
Posteriormente, os criadores do grupo chegaram à conclusão que Leo não tinha a voz que a banda precisava, ou seja, a voz aguda e doce não era o que eles procuravam. Foi então que Léo Jaime, que já tinha três bandas – entre elas o João Penca e Seus Miquinhos Amestrados – não levou o ‘toco’ pro lado pessoal, muito pelo contrário, ele foi muito simpático e entendeu qual era o objetivo da banda. Foi através de Léo inclusive que a banda conheceu o nosso querido Agenor de Miranda Araújo Neto, nome de batismo do mestre Cazuza, este que trouxe toda a energia selvagem de rock que todos da banda procuravam em um cantor, e por isso, de imediato Cazuza foi aceito. Aproveitando a ‘deixa’, acredito que vocês caros leitores daquela emblemática cena do filme Cazuza – O Tempo Não Pára (2004), na qual rola um ensaio e os garotos mandam a clássica Smoke The Water do Deep Purple. Eu assisti esse filme inúmeras vezes, e sempre piro nessa parte. Outra coisa que gostaria de lembrar junto à vocês, é que além de ser um excelente cantor, Cazuza manjava muito de composição, por isso a química foi perfeita.
O pai de Cazuza, o senhor João Araújo (empresário, produtor e também presidente da Som Livre na época) tinha arranjado um trabalho para o filho na gravadora, mas como todos sabem, o nosso querido Cazuza não queria trabalhar nesse ramo, mas sim ser um artista. Seu pai, que não aceitava seu filho em uma banda de rock, recebeu uma enorme pressão e resistiu até onde pôde as exigências. Em seu trabalho, Cazuza inicia uma amizade com o produtor musical Ezequiel Neves que após ouvir uma fita K7 demo da banda em 1981 quis que o Barão Vermelho gravasse um disco pela Som Livre. A resistência de João não durou muito e por isso, ele teve que ceder e contratar a banda.
O primeiro disco do Barão Vermelho foi lançado em setembro de 1982 e foi gravado durante o mês de maio do mesmo ano no estúdio Sigla do Rio de Janeiro. Podemos afirmar que este disco foi um pé na tábua para as bandas do rock brasileiro, mesmo porque o Barão Vermelho foi uma das primeiras bandas nacionais a ter destaque na mídia, fazendo muito sucesso e tendo seu ápice no primeiro Rock In Rio em 1985. Neste primeiro disco da banda estão músicas que se tornaram imortais na memória do público, tais como: Down Em Mim, Bily Negão, Ponto Fraco e Todo Amor Que Houver Nessa Vida.
O que vale muito destacar nesse álbum é marcante vibração da banda. Uma energia visceral com a pura fórmula do rock ‘n roll junto aos delirantes solos de guitarra de Frejat. O disco já começa com uma bela canção, Posando de Star – que eu acho bem interessante pois é um retrato fiel do Cazuza sendo um porra louca. Também destaco a faixa Conto de Fadas, onde encontramos uma letra bem debochada, na qual a menina que foi abandonada é escrachada pela ironia de Cazuza.
Em sua totalidade o disco é muito contagiante, com variações do rock n’ roll ao blues dos Stones, e o que também vale e muito citar é a nítida vontade que esses rapazes tinham de fazer rock e também a contagiante energia que você sente da primeira a última faixa do disco. E na minha concepção, a banda só repetiria esse feito no disco Maior Abandonado (1984), que foi um sucesso de vendas, mas que tem uma sonoridade mais pop, diferente do disco de 1982.
Sem sombra de dúvidas, eu recomendo esse disco, que para mim é um dos mais rock ‘n roll da década de 80, e para terminar gostaria de destacar uma faixa que não entrou no disco na época, mas que veio a tona recentemente no disco comemorativo, a faixa Sorte ou Azar. A música se tornou pop porque foi tema de novela da Globo, mas na época o pessoal não quis arriscar pois achavam que ela traria azar para a banda. Que bobagem, não? Vale a pena conferir, eu super recomendo para vocês caros leitores do blog A História do Disco. Um forte abraço e até a próxima pessoal!
Faixas do Disco
1 – Posando de Star
3 – Conto de Fadas
4 – Billy Negão
6 – Rock’n Geral
7 – Ponto Fraco
8 – Por Aí
9 – Todo o Amor Que Houver Nessa Vida
10 – Bilhetinho Azul