milionário e josé rico – Estrada da Vida (1977)
Olá amigos do site A História do Disco, tudo bem com vocês? Espero que sim, eu sou Flávio Oliveira e vamos iniciar mais uma matéria sobre música, curiosidades de bandas e tudo mais. Bora lá!?
Meus caros leitores, antes de qualquer coisa, devo alerta-lo de que a nossa resenha de hoje será um pouco diferente comparada com as que já existem em nosso site. Não é querendo polemizar nem nada, mas nós do AHD como indivíduos movidos pela música nos sentimos no dever de falar deste álbum que marca a história da música caipira brasileira. Nosso objetivo não é apenas falar de rock, pop, mpb, samba, etc., mas sim falar de música boa e de suas histórias que deixaram legados na memória das pessoas. A música é uma forma de nos libertar do tédio do dia a dia, de sentirmos as derivadas sensações que um campo harmônico pode nos propiciar (a contemplação principalmente). Assim, aquela frase do filósofo Friedrich Nietszche faz todo sentido, onde o mesmo afirma que “Sem a música, a vida seria um erro”. Portanto, hoje falaremos de uma dupla sertaneja que marcou e ainda marca ainda a vida de todos nós – eu, por exemplo, cresci ouvindo esse tipo de música e levo isso como uma parte importante na minha formação como ouvinte e também como crítico-reflexivo mediante a situação dos trabalhadores rurais de nosso país. Falaremos dos Gargantas de Ouro do Brasil, Milionário e José Rico.
Antes de mais nada, quero deixar explicito que todas as pontuações que farei acerca desse disco estão projetadas em minha mente e por conta disso, não é soando como pura vaidade em querer colocar as minhas experiências como plano principal da resenha, mas sim falar em primeira pessoa com autonomia a partir de tudo que vivi até o presente momento ouvindo estas canções – por isso, vamos ao que interessa!
Desde quando era criança me recordo de ver meu pai e meu querido tio Luiz (que reside em Araraquara/SP) ouvindo e cantando as canções desta dupla, e por conta disso, os LP’s que meu pai tem guardado até hoje sempre compôs minha curiosidade em saber e querer conhecer essas músicas e duplas.
A dupla que está merecendo destaque hoje em nosso site é uma das mais prestigiadas no cenário sertanejo brasileiro, e que em quarenta anos de carreira venderam aproximadamente cerca de 35 milhões de exemplares de discos desde o ano em que surgiram, em 1973. Milionário e José Rico são conhecidos popularmente como “Os Gargantas de Ouro do Brasil” e creio que este apelido faz jus aos feitos da dupla – os agudos alcançados pela mesma deixa qualquer cantor de heavy metal no chinelo.
O disco que estamos falando hoje aqui no AHD é de 1977 e merece destaque porque ganhou até filmagens contando a história da dupla – eu assisti muito esse filme com meus pais. As duplas sertanejas brasileiras durante a década de 70 não tinham tanto reconhecimento como se tem nos dias de hoje, os cantores sertanejos do dias atuais fazem show diariamente, chegam a uma média de mais 100 apresentações ao mês – os caras são punk rock mesmo -, já naquela época, a maioria dos cantores populares – nos quais eram chamados de bregas – viviam fazendo circuitos de shows em circos.Sim, em circo mesmo. Pode até parecer bizarro , mas antigamente as duplas sertanejas por conta de não terem espaço nas grandes rádios (as Major Fm’s que só tocavam outros estilos de música, as duplas sertanejas só tinham espaço nas rádios AM) e até mesmo em programas televisivos, esses artistas tinham que fazer maratonas de shows com as companhias circenses. Meus pais sempre contam que histórias sobre os shows que eles assistiram enquanto jovens aqui em minha cidade natal (Taquaritinga/SP). As duplas sertanejas passam a ganhar destaque na cultura brasileira a partir dos anos 90 com duplas como: Leandro e Leonardo, Chitãozinho e Xororó, Zezé Di Camargo e Luciano, e João Paulo e Daniel. Estes artistas literalmente quebraram a MPB de modo geral – vale lembrar que este estilo musical passava por um período de declínio, talvez pelo sucateamento que as grandes gravadoras estavam fazendo, e artistas de épocas anteriores como Maria Bethania tinham que interpretar canções de outros cantores.
Voltando ao disco de hoje da AHD, o ano é de 1977, próximo ao desfecho do regime autoritário que era vigente desde 1964. O trabalhador bóia fria (os famosos cortadores de cana) e também pequenos sitiantes mantinham os seus costumes em tocar a música caipira e faziam seus costumes do cotidiano se tornar música. É neste cenário que temos a dupla Milionário e José Rico.
O disco A Estrada da Vida foi lançado pela gravadora Warner Music no ano de 1977. O álbum chegou a alcançar marcas impressionantes – 750 mil cópias vendidas – chegando ao prêmio de disco de platina triplo. Mas qual a explicação para tamanho sucesso? Eu vejo a resposta para essa pergunta da seguinte maneira: As canções deste disco são simplesmente poéticas, abordando coisas da vida de um trabalhador, falando de amores, desilusões, religiosidade e fé, a convicção de uma vida melhor e mais justa e outros assuntos que compõem tudo sobre as pessoas que vivem em cidades interioranas e que batalham diariamente pelo seu “ganha pão”. Talvez seja essa a fórmula para tanto sucesso, a aproximação que as músicas traziam aos seus ouvintes e aquele sentimento de que “tem uma pessoas que canta aquilo que gosto e quero ouvir”.
Falando agora da música Estrada da Vida, eu vejo essa música como uma das mais poéticas que já ouvi. Em um programa de televisão que aborda as histórias por trás das canções o cantor e compositor Humberto Gessinger da banda Engenheiros do Hawaii afirma que a música Infinita Highway foi totalmente inspirada nesta canção que estou abordando. É pura poesia refinada sobre a vida, na canção temos uma clara alusão da nossa vida como uma estrada na qual temos que percorrer trechos difíceis, mas que no final tudo dá certo. É interessante pensarmos por esse lado, pois as vezes passamos por determinadas fases na vida que nos fazem pensar que nada vai dar certo ou que há alguma conspiração externa, mas tudo fica claro quando ouvimos essa canção – vivemos, evoluímos e chegamos ao estágio final da vida que é a morte, no qual o compositor cita como o final da corrida. Quer mais poético e filosófico que isso meus caros leitores? Segundo a dupla, esta música foi desenvolvida durante as viagens que os mesmos faziam durante uma campanha política. A maratona se inicia na cidade do interior São José do Rio Preto/SP chegando até o estado de Góias – é muita coisa né? Como pude apurar em algumas pesquisas, descobri que o carro utilizado na época pelos dois era uma Brasília verde reluzente e que este veículo lindo e potente para aquele contexto serviu de base para a composição sair e virar um sucesso. Depois disso, temos o filme lançado em 1980 lançado com o mesmo nome do disco de 1977. A história do filme se passa por tudo que a dupla vivenciou (eles mesmos encenam suas próprias vidas), desde as maratonas de shows até as dificuldades encaradas pelos dois até chegar ao sucesso artístico. Bem legal, não é?
Eu poderia escrever mais longos parágrafos aqui no AHD para mostrar à vocês o quão grandioso foi esse disco, mas eu vou deixar um gostinho de quero mais pra vocês, corram lá e ouçam o disco do começo ao fim e embalem nessa viagem que é Milionário e José Rico.
Faixas do Disco
Lado A
1 – Estrada da Vida
2 – Bebida Não Cura Paixão
3 – Meu Sofrimento
4 – Destino Cruel
5 – Sentimento Sertanejo
6 – Adeus
Lado B
7 – Migalhas de Amor
8 – Doce Ilusão
9 – Conselho
10 – Ciumento
11 – Solidão
12 – Esquecido